A
expressão "mestres da suspeita" foi cunhada pelo filósofo francês
Paul Ricoeur (1913-2005) para designar os pensadores Marx, Nietzsche e Freud. Segundo
Ricoeur, foram esses três pensadores que suspeitaram das ilusões da
consciência. Por consequência, para descobrir a verdade, é preciso proceder à
interpretação do que consideramos conhecer a fim de decifrar o sentido oculto
no sentido aparente.
a)
Marx: a ideologia
Karl
Marx (1818-1883) viveu intensamente o período de confronto do proletariado com
a elite econômica de seu tempo. Quando esteve na Inglaterra, conheceu de perto
a situação deplorável do operariado, obrigado a longas jornadas de trabalho em oficinas
insalubres e com baixa remuneração. Elaborou então sua teoria materialista,
segundo a qual as ideias devem ser compreendidas a partir do contexto histórico
da comunidade em que se vive, porque elas derivam das condições materiais, no caso,
das forças produtivas da sociedade. Percebeu também as contradições que surgem
entre essas forças produtivas e as relações de produção. Nesse contexto, as
ideias vigentes, que aparecem como universais e absolutas, são de fato parciais
e relativas, porque representam as ideias da classe dominante. As concepções
filosóficas, jurídicas, éticas, políticas, estéticas e religiosas da burguesia
são estendidas para o proletariado, perpetuando os valores a elas subjacentes
como verdades universais. Para Marx esse conhecimento que aparece de forma
distorcida é a ideologia, ou seja, um conhecimento ilusório que tem por
finalidade mascarar os conflitos sociais e garantir a dominação de uma classe,
impedindo que a classe submetida desenvolva uma visão do mundo mais universal e
lute pela autonomia de todos.
b)
Nietzsche: o critério da vida Friedrich Nietzsche (1844-1900) procedeu a um deslocamento
do problema do conhecimento, alterando o papel da filosofia. Para ele, o
conhecimento não passa de interpretação, de atribuição de sentidos, sem jamais
ser uma explicação da realidade. Conferir sentidos é, também, conferir valores,
ou seja, os sentidos são atribuídos a partir de determinada escala de valores
que se quer promover ou ocultar. Para Nietzsche, o conhecimento resulta de uma luta,
do compromisso entre instintos. Ao compreender a avaliação que foi feita desses
instintos, descobre que o único critério que se impõe é a vida. O critério da
verdade, portanto, deixa de ser um valor racional para adquirir um valor de
existência. O que Nietzsche quer dizer com "critério da vida”? Ao
perguntar- se que sentidos atribuídos às coisas fortalecem nosso "querer
viver" e quais o degeneram, questiona os valores para distinguir quais nos
fortalecem vitalmente e quais nos enfraquecem.
Outra
teoria que destaca o caráter interpretativo de todo conhecimento é a do
perspectivismo, que consiste em considerar uma ideia a partir de diferentes
perspectivas. Essa pluralidade de ângulos não nos leva a conhecer o que as
coisas são em si mesmas, mas é enriquecedora por nos aproximar mais da
complexidade da vida em seu movimento.
c)
Freud e o inconsciente - Sigmund Freud (1856-1939), fundador da psicanálise, desmente
as crenças racionalistas de que a consciência humana é o centro das decisões e
do controle dos desejos, ao levantar a hipótese do inconsciente. Diante de
forças conflitantes, o indivíduo reage, mas desconhece os determinantes de sua
ação. Caberá ao processo psicanalítico auxiliá-lo na busca do que foi silenciado
pela repressão dos desejos. A hipótese do inconsciente tornou-se fecunda ao permitir
a compreensão de uma série de acontecimentos da vida psíquica. Para a
psicanálise, todos os nossos atos trazem significados ocultos que podem ser
interpretados. Usando de uma metáfora, poderíamos dizer que a vida consciente é
apenas a ponta de um iceberg, cuja montanha submersa simboliza o inconsciente.
Os
sintomas que vêm do inconsciente devem ser decifrados na sua linguagem
simbólica, já que o simbolismo é o modo de representação indireta e figurada de
uma ideia, conflito ou desejo inconsciente. Há vários tipos de sondagem do
inconsciente, mas, para Freud, os sonhos constituem o caminho privilegiado, que
ele procura desvendar pelo método da associação livre.
As
críticas elaboradas por Marx, Nietszche e Freud repercutiram de maneira
significativa nas reflexões posteriores sobre o sentido da verdade e o alcance
do nosso conhecimento. Filósofos de correntes diferentes, como o pragmatismo, a
filosofia da linguagem, o neopositivismo, o neomarxismo, enfim, das mais
diversas tendências, se ocuparam com essa questão.
Resenha do livro Filosofando - de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins - 4ªEdição - Editora Moderna.
Resenha do livro Filosofando - de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins - 4ªEdição - Editora Moderna.
ta se fosse para ler o livro eu mesmo lia pq eu tenho ele aqui em casa eu preciso de um interprete com palavras que sejam mais sutis
ResponderExcluirPutz, cara, como você é folgado! rsrsrsr
ExcluirMais didático que esse texto só se pegar na sua mão e te ensinar o alfabeto novamente, Para de ser preguiçoso e trate de pensar e refletir sobre as ideias propostas. --' "Se fosse pra eu ler o livro eu mesmo lia" TÁ ESPERANDO O QUE? talvez traga algum tipo de conhecimento pra essa sua cabeça oca.
ResponderExcluirEm tempo: o livro Filosofando é para ser lido. A resenha é apenas uma forma de aproximar as reflexões que estão no livro. Um pequeno roteiro.
ResponderExcluirE o esforço sempre vale a pena, ainda que inicialmente possa conter alguma dificuldade. Os textos de filosofia exigem de nós disciplina e atenção. E podemos sempre ler outros comentadores dos livros. Na internet encontramos bastante material de consulta.
ExcluirA Filosofia eis que tem um aspecto de suspeita, de dúvida, crítica, suspicácia, um aspecto da chamado por Hegel, "tabalho do negativo", ao lado da construção de grandes edifícios metafísicos não assumidos pelos filósofos modernos como Friedrich Nietzsche, mas em uma de suas obras, Nietzsche assume, de fato, que a Filosofia, o amor à sabedoria, só poderia dar-se se as pessoas convissem com suas idéias, ou seja, eis um construtor e dono de mais um edifício metafísico para os que quereriam ser amantes do saber.
ResponderExcluirMas, como eu dizia, a crítica e a suspeita é própria, outrossim, da Filosofia, pois o filósofo teria olhos de ver o que a maioria só vê como banal, como comum e usual. O filósofo eis que é o homem lúcido e desperto que enxerga ao fim e ao cabo tudo como um em sua consciência una, madura, do honem maduro "spoudaios", como diria o Filósofo (Aristóteles).
Não que eu concorde com as conclusões de Nietzsche, Freud e Marx, pois sou católico e de direita defensor do Capitalismo, mas tiro o meu chapéu branco de palha que costumo usar no cotidiano em respeito a esses caras que com maestria, apesar de certas desonestidades, instigar o mundo a perguntar-se e perguntar não ofende.
JOÃO EMILIANO MARTINS NETO
(https://joaoemilianoneto.blogspot.com.br)