quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A política na voz dos artistas. Roda Viva, músca de Chico Buarque, proibida pela ditadura militar.

Roda Viva
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu…
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá …
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá…
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou…
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá…
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou…
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá …
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas rodas do meu coração…
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Para reflexões:

1 - Através de uma linguagem figurada o compositor buscava manter viva a lembrança da repressão de um regime militar (aqui representado pela Roda Viva) que impedia qualquer gesto de criação e liberdade, representada por uma “linda roseira” eliminada pela Roda Viva.

2 - Afirmar nossa autoridade sobre nosso destino é condição fundamental da democracia. Sem liberdade a democracia é uma falácia.

3 - Nos atos do cotidiano podemos expressar a busca da liberdade, quando criamos o novo, (plantando uma roseira - símbolo da beleza, afirmando nossa alegria ("Viola na rua a cantar").

4 - Quando "O samba, a viola, a roseira" vão para a fogueira, reintaura-se a Inquisição com toda sua perversidade contra a vida.   


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